domingo, 5 de janeiro de 2014

Simplesmente Maria


Nasceu num dia qualquer, não fazia sol quente, nem ao menos chovia. Era como se o tempo congelasse  naquele instante sob o olhar curioso de meia dúzia de filhotes de gente a espiar pelas frestas da velha janela ruída pelo tempo.
Ecoou um grito de alivio e em seguida um barulho causado pelo tapa da parteira .
E o silêncio habitou aquele lugar momentaneamente. 
Um bebê pequeno, cria  com eximia delicadeza e ao mesmo tempo desprovido de qualquer sinal de vida. 
Dona Ana franziu a testa e num ato meio grotesco sacudiu e lançou  repetidos tapas naquela miudeza.
Pensamentos e rezas povoavam a mente da velha. Dona Ana era parteira de mão cheia, perdeu a conta de quantos meninos ajudou a vim á mundo. Fazia de bom grado, não recebia nada além de “Deus te ajude” e naquele instante sentiu um nó na goela. 
A pele negra suava, suas mãos calejadas  seguravam o pequeno feto .O vento bateu na janela  denunciando os olhos curiosos e arregalados. E o sopro de vida invadiu aquele lugar.
Ouviu-se um som que nem de longe se assemelhasse a um choro e o ruído crescente ficou cada vez mais forte .
A velha parteira esboçou um sorriso aliviado, limpou o suor do rosto com as costas das mãos e pôs se a fazer os cuidados cabidos á recém-nascida.
Maria, assim foi batizada, era a primeira menina de toda a prole, sua mãe devota de Nossa Senhora homenageou  a mãe do menino Jesus que sempre atendia aos seus  apelos:
_Valei-me, minha nossa Senhora!
E assim nasceu aquela que veio ao mundo pra espalhar amor.Maria, simplesmente Maria.

                  Daniela Coelho

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